Base Doutrinária
Definição
A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas. A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; “é o Reino do Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação.” (HODGE. 1999, Pag. 403).
O uso da expressão “católica” para referir-se à Igreja como una, ou única foi usado pela primeira vez por Inácio de Antioquia (68 – 107 AD), que segundo o Prof. Franklin Ferreira, é a unidade de todas as Igrejas locais (FERREIRA, pag. 945). O caso é que tanto os termos “católica” como “universal” ganharam conotações negativas por causa da ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) e da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), ambas reconhecidamente como seitas. Talvez o termo “una” seja uma opção para o resgate do imprescindível conceito da única e verdadeira Igreja que é invisível como visível.
Natureza da Igreja
Igreja visível e invisível.
De um lado, a igreja de Deus é visível, e de outro, é invisível. Todavia, esse conceito não se refere a duas igrejas, mas a dois aspectos da única igreja de Jesus Cristo. É a igreja, como existe na terra e como o homem a vê. Esta igreja é dita invisível porque é essencialmente espiritual e, em sua essência espiritual, não a pode discernir o olho humano; e porque é impossível determinar infalivelmente quem não lhe pertence.
A união dos crentes com Cristo é uma união mística, espiritual. O Espírito que o une constitui um laço invisível; e as bênçãos da salvação, tais como a regeneração, a conversão genuína, a fé verdadeira e a comunhão espiritual com Cristo, são todas invisíveis aos olhos naturais; – e, todavia, estas coisas constituem a forma real (o caráter ideal) da igreja. Louis Berkhof, professor no Calvin Theologic Seminary por mais de quatro décadas afirma que:
...a igreja invisível assume uma forma visível; tal qual como a alma humana se adapta a um corpo e se expressa por meio do corpo, assim a igreja invisível, que consiste, não de almas, mas de seres humanas que têm alma e corpo, assume necessariamente forma visível numa organização externa, por meio da qual se expressa. A igreja é visível na profissão de fé e conduta cristã, no ministério da Palavra e dos sacramentos, e na organização externa e seu governo.3
Embora tanto a igreja invisível como a visível possam ser consideradas universais, as duas não são comensuráveis em todos os aspectos. É possível que alguns pertencem à igreja invisível nunca se tornem membros da organização visível, como as pessoas alcançadas pela ação missionária e convertidas em seus leitos de morte, e que outros sejam temporariamente excluídos dela, como crentes errantes por algum tempo afastados da comunhão da igreja visível. Por outro lado, pode haver crianças e adultos não regenerados que, apesar de professarem a Cristo, não têm a verdadeira fé nele, se achem na igreja como instituição externa; e estes, enquanto estiverem nestas condições, não pertencerão à igreja invisível.
Igreja militante e Igreja triunfante.
Enquanto estiver no mundo, a igreja é militante; isto é, convocada para uma batalha santa, e de fato nela está emprenhada, levando avante uma incessante guerra contra o mundo hostil em todas as formas em que este se revele, seja na igreja ou fora dela, e contra todos os poderes espirituais das trevas.
A igreja não pode passar o tempo todo em oração e meditação, embora estas práticas sejam tão necessárias e importantes, nem tampouco deve parar de agir, no pacífico gozo da sua herança espiritual. Ela tem que estar engajada com todas as suas forças nas pelejas do seu Senhor, combatendo numa guerra que é tanto ofensiva como defensiva.
Se a igreja na terra é a igreja militante, no céu é a igreja triunfante. Lá a espada é permutada pelos louros da vitória, os brados de guerra se transformam em cânticos triunfais, e a cruz é substituída pela coroa. A luta é finda, a batalha está ganha, e os santos reinam com Cristo para todo o sempre. Nestes dois estágios da sua existência, a igreja reflete a humilhação e a exaltação do seu celestial Senhor.
Distinção entre Organismo e Instituição.
A Igreja é tanto um organismo como uma instituição (apparitio e institutio – função e instituição). Este aspecto se percebe no âmbito vísivel, mas têm seu pano de fundo na igreja invisível. Contudo, apesar de ser verdade que estes são dois aspectos diferentes da igreja visível, representam diferenças importantes.
Um organismo é algo que está vivo, em plena atividade. A igreja como organismo é o coetus fidelium, a união ou comunhão dos fiéis, unidos pelo vínculo do Espírito, enquanto que como instituição é a mater fidelium, a mãe dos fiéis. Ela é uma agência para a conversão dos pecadores e para o aperfeiçoamento dos santos, sendo neste sentido um meio de salvação. Nela, todos os tipos de dons e talentos tornam-se manifestos e são utilizados na obra do Senhor. O exercício dos dons espirituais retrata essa comunhão e união existencial perene desenvolvida; dado o fato que os dons são a forma simples de os irmãos viverem se ajudando, abençoando, honrando, servindo, relacionando com o propósito de glorificar a Deus.
Por outro lado, a igreja como instituição existe numa forma institucional e funciona por meio dos ofícios e meios que Deus instituiu. Num sentido, ambas são coordenadas, e, todavia, há também certa subordinação de uma à outra. A igreja como instituição ou organização (mater fidelium)5 é um meio para um fim, e este fim se acha na igreja como organismo, a comunidade dos crentes (coetus fidelium).
Enquanto instituição, a Igreja pode ser vista a partir de uma forma de funcionamento organizacional, por intermédio das regulamentações inerentes de sua constituição, de seus credos e confissões que estabelecem a sua teologia institucional, a forma de se aplicar disciplina e também o exercício do cumprimento de leis civis do próprio país no qual ela existe.
Atributos da Igreja.
I. Unidade
A unidade da igreja não é de caráter externo, mas interno e espiritual. É a unidade do corpo místico de Jesus Cristo, do qual todos os crentes são membros. Este corpo é dirigido por um Cabeça, que é o Senhor Jesus Cristo, que também é o Rei da Igreja, e é vivificado por um só Espírito, o Espírito de Cristo, que causa a unidade entre o povo de Deus, por ser um só Espírito. A verdadeira igreja é aquela que é o corpo de Cristo o qual implica em unidade profunda e evidente com esse corpo, o qual é membro desse corpo e depende dele, criando uma interdependência de todas as partes6 .
A mais perfeita demonstração de unidade é a Trindade, onde as três pessoas coexistem em perfeita unidade e comunhão eterna Todos os crentes estão unidos pela fé comum a Cristo o Senhor, tendo sido selado por ele pelo mesmo Espírito que atua em nós, tornando-nos seu templo. Participar da igreja é participar da unidade e comunhão do Espírito, no qual todos nós temos acesso ao Pai.
A diversidade existente na igreja não quebra sua unidade, porque o papel da diversidade de realizações e ações dentro da igreja é a manifestação da ação una do Espírito do Trino Deus na vida de Seu povo.
Aspectos Positivos da Unidade da Igreja:
1.1) Unidade é Ação do Espírito. A unidade verdadeira só pode ser produzida quando a Igreja se submete a Cristo, que é o vínculo de toda a unidade. O Espírito de Cristo, que nos une a ele, é o mesmo Espírito que nos une uns aos outros no corpo de Cristo.
1.2) A Unidade é Essencial. A igreja não pode ser igreja de Deus, sem que seus membros sejam também transformados em seu caráter, sejam nascidos de novo, amem a Palavra de Deus e a guardem.
1.3) Unidade de propósito. O Espírito Santo constituiu a igreja com o propósito de glorificar a Deus, proclamando os Seus atos redentores e salvadores e a Igreja, por sua vez, glorifica a Deus sendo-lhe obediente. É a ação do Espírito Santo na Igreja que nos move ao mesmo projeto de adoração, louvor, trabalho e comunhão uns com os outros, mesmo que as ideias sejam divergentes; pois a unidade também é resultado da ação do Espírito que age individualmente nos eleitos e regenerados que já foram agregados à Igreja.
Aspectos Negativos da Unidade:
2.1) Unidade não é companheirismo social pelo fato de a Igreja não ser um grupo social que se reúne para lazer, diversão ou preservação da vida; não é um local onde se passeia por não ter outra opção de diversão nos finais de semana. A unidade de uma igreja não pode ser medida simplesmente por companheirismo social.
2.2) A Unidade não é uniformidade de organização. A igreja não precisa necessariamente manter em todos os tempos e lugares a mesma forma de organização. Sem dúvida a organização é muito importante, todavia, ela deve servir o Evangelho com vistas ao estabelecimento da comunhão cristã. Assim, não são as padronizações nas construções, pinturas e cores; formatos de Escolas Dominicais, horários de culto e até mesmo formas de distribuição da Santa Ceia que caracterizarão a unidade da Igreja.
2.3) Unidade não é uniformidade de vida. Há na igreja, pessoas das mais diversas formações, pensamentos e estilos de vida. Quando Deus nos transforma, Ele muda o nosso caráter, transforma nossa personalidade naquilo que necessita de mudança para melhor se adequar ao reino de Deus e aos princípios da Santa Escritura, mas não nos tornamos uns nos outros e não somos robotizados. Paulo era diferente de Pedro, Pedro diferente de Barnabé, que era diferente de João etc.
2.4) Unidade não existe em detrimento da verdade, do amor e da comunhão. Embora regenerados e convertidos, todos temos falhas e problemas em decorrência de nossa natureza caída. Todavia, essa realidade não se traduz em oportunidade para concessões ou distorções dos valores da Santa Escritura. A verdade, o amor, o respeito, a lealdade e a comunhão devem encharcar nossos corações; mas a conivência com pecados vis por temor à quebra a unidade da igreja pode se constituir numa terrível teia de enganos. A unidade é obra do Espírito Santo, mas cabe a cada crente buscar a plenitude da paz e da unidade da Igreja. A unidade da igreja revela ao mundo quem de fato somos em quem de fato cremos e que de fato o amor de Deus o Pai, está presente também em nosso coração. A comunhão com o Espírito não é individualista, é socializante, pois revela que todos os que são de Cristo, são inteiramente dependentes e necessitados da sua grande graça.
II. Santidade
A igreja é absolutamente santa num sentido objetivo, isto é, como ela é considerada em Jesus Cristo. Em virtude da justificação mediatária que imputa a justiça de Cristo; a igreja é purificada e tida por santa perante Deus. Também, num sentido relativo, a igreja é subjetivamente santa, isto é, como realmente santa no princípio interior da sua vida, e destinada a santidade perfeita. Daí, ela de fato pode ser denominada comunidade dos santos. Esta santidade é, acima de tudo, uma santidade do homem interior, mas uma santidade que também acha expressão na vida externa. Conseqüentemente, a santidade é atribuída também, secundariamente, à igreja visível.
A igreja é santa no sentido de que é separada do mundo na sua consagração a Deus, e também no sentido ético de colimar, visar e em princípio, realizar um santo relacionamento com Cristo. O apóstolo Paulo não hesita em dirigir-se ás igrejas como igrejas dos santos.
Marcas da Verdadeira Igreja
a. A fiel pregação da Palavra.
Esta é a mais importante marca da igreja. Enquanto que esta independe dos sacramentos, estes não são independentes dela; uma vez que os sacramentos emanam da Palavra. A fiel pregação da Palavra é o grande meio para a manutenção da igreja e para habilita-la a ser a mãe dos fiéis.
Atribuir esta marca à igreja não significa que a pregação da Palavra na igreja terá que ser perfeita para que ela possa ser considerada como igreja verdadeira. Tal ideal é inatingível na terra.
Enquanto militante, só se pode atribuir à igreja uma relativa pureza de doutrina. Uma igreja pode ser relativamente impura em sua apresentação da verdade, sem deixar de ser uma igreja verdadeira. Mas há um limite além do qual a igreja não pode ir, na apresentação errônea da verdade ou em sua negação, sem perder o seu verdadeiro caráter e tornar-se uma igreja falsa. É o que acontece quando artigos fundamentais de fé são negados publicamente, e a doutrina e a vida já não estão sob o domínio da Palavra de Deus. João Calvino, o grande exegeta e sistematizador da Reforma Protestante clareia essa questão.
“... nem todos os artigos da doutrina de Deus são de uma mesma espécie. Há alguns tão necessários que nada pode colocar dúvidas sobre eles como princípios da religião cristã. Eles são: que existe um só Deus; que Jesus Cristo é Deus e Filho de Deus; que nossa salvação repousa somente na misericórdia de Deus. E assim outros semelhantes. Há pontos que não são convenientes a todas as igrejas, mas isso não rompe a união entre elas. Exemplo: Se uma igreja sustenta que as almas são transportadas ao céu no momento da separação de seu corpo, e outra, se atreve a determinar o lugar, ou dizer simplesmente que vivem em Deus, quebrariam estas igrejas entre si a caridade e o vínculo da união ...”.
Um dos grandes lemas norteadores da Reforma Protestante repousa na autoridade, suficiência e inerrância das Escrituras. Sobre o “Sola Scriptura”, Wayne Gruden, Ph.D. pela Universidade de Cambridge etitular do Departamento de Teologia Bíblica e Sistemática na Trinity Evangelical Divinity School, afirma:
As Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer.
A eclesiologia Reformada classifica os grupos cristãos em Igrejas mais puras, Igrejas menos puras e Igrejas falsas (as seitas). Quanto à autoridade e inerrância do cânon bíblico, há verdades que são inarredáveis, isto é, as doutrinas centrais da fé cristã. Outrossim, há doutrinas que não comprometem essas verdades elementares. Entretanto, quando as verdades absolutas são negadas, então já não resta evidências de uma igreja verdadeira.
b. A correta ministração dos sacramentos.
Jamais se deve separar os sacramentos da Palavra, pois eles não têm conteúdo próprio, mas extraem o seu conteúdo da Palavra de Deus. Os sacramentos são de fato uma pregação visível da Palavra. Nesta qualidade, eles devem ser ministrados por legítimos ministros da Palavra, de acordo com a instituição divina, e somente a participantes devidamente qualificados – os crentes e seus filhos.
A negação das verdades centrais do Evangelho, naturalmente afetará a adequada ministração dos sacramentos. A corrreta administração dos sacramentos é uma característica da igreja verdadeira, segue-se da sua inseparável conexão com a pregação da Palavra.
c. O fiel exercício de disciplina.
A aplicação da disciplina aplicada pela Igreja, sob a autoridade do Senhor Jesus, é essencial para a manutenção da pureza da doutrina e para salvaguardar a santidade dos sacramentos. As igrejas que relaxarem na disciplina, descobrirão mais cedo ou mais tarde em sua esfera de influência um eclipse da luz da verdade e abusos nas coisas santas. Daí, a igreja que quiser permanecer fiel ao seu ideal, na medida em que isto é possível na terra, deverá ser diligente e conscienciosa no exercício da disciplina cristã.
A Palavra de Deus é enfática quanto à adequada disciplina a ser exercida na igreja de Cristo. A disciplina deve visar a reabilitação do membro faltoso com a finalidade de reconduzi-lo nos caminhos de Cristo, sendo acompanhado pelos oficiais da igreja que terão a incumbência de admoestá-lo, animá-lo e ajudá-lo a se erguer e fortalecer-se para que seja reintroduzido no corpo de Cristo e assim possa exercer novamente seus dons e talentos após ter sido curado e restaurado.
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A disciplina bíblica possui um duplo caráter: terapêutico para o faltoso e didático para a Igreja. Eis os propósitos da disciplina:
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Restauração e reconciliação do faltoso. O pecado impede a comunhão com os cristãos e também com Deus. Para que haja reconciliação, o pecado precisa ser tratado. Portanto, o propósito principal da disciplina eclesiástica é alcançar o duplo alvo da restauração e da reconciliação. Impedir que o pecado se espalhe, atingindo outros.
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Impedir que o pecado se espalhe atingindo a outros pela percepção da omissão da Igreja em tratar da punição, com vistas ao impedimento da propagação do pecado.
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Proteger a pureza da igreja e a honra de de mácula, para que Cristo não seja desonrado e sua igreja não seja difamada, tornando-se um espetáculo de escárnio para os incrédulos.
Em seus padrões de ordem ou de governo, a Igreja Presbiteriana do Brasil dispõe de vasto ordenamento para as tratativas das questões disciplinares. Seu Código de Disciplina contempla desde os casos mais simples aos processos mais complexos.
As Funções da Igreja.
No relacionamento com relação a Deus, o propósito é adorá-lo. A adoração é central na vida da Igreja e o culto constitui a sua principal atividade. O Catecismo Menor de Westminster, um dos Símbolos de Fé da Igreja Presbiteriana do Brasil, começa com a declaração que a adoração a Deus é a finalidade precípua da existência humana2
. Van Horn afirma que “a expressão ‘glorificá-lo’ está colocada antes de ‘gozá-lo’ porque primeiro é necessário
glorifica-lo, para depois gozá-lo” (VAN HORN, 2000 pag. 07). A inversão dessa ordem implica em
Deus existir para o ser humano; quando de fato, este existe para aquele.
A Igreja de Colossos é instruída a louvar a Deus “com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão no coração.” Deus nos escolheu em Cristo e nos predestinou "para sermos para louvor da sua glória” . A adoração na igreja não é simplesmente uma preparação para algo mais. Ela está em si mesma cumprindo o principal propósito da igreja com referência ao seu Senhor. Essa é a razão por que o Espírito Santo, depois de advertir de que devemos "remir o tempo", acrescenta o mandamento de sermos cheios do Espírito e de estarmos "entoando e louvando de coração ao Senhor".
A Igreja é a assembleia dos que Deus escolheu em Cristo Jesus, não a reunião dos que invocam a divindade para que ela desça ao local dos invocadores. Também não se define como romaria a sítios de aparições em que a divindade “aparecida” se limita ao espaço e ao tempo, aguardando a visita” dos fiéis. Culto, por outro lado, não pode ser ascese extática de místicos que pretendem sair do meio físico para subirem aos céus e lá, em espírito, estarem com Deus. O culto é o sinal de que Deus desceu até nós, agregou-nos a ele, fez-nos seus adoradores. A presença de Deus gera o culto, não o culto “chama” Deus para estar presente.
Apocalipse é um testemunho da glória de Deus em Cristo, em que o Cordeiro é colocado no centro da adoração dos santos, que se efetiva nos céus e se realiza também na terra. A solenidade do culto celeste, na visão apocalíptica, enriqueceu muito a adoração terrestre da Igreja primitiva e sofredora. A exaltação do Cordeiro se faz pela palavra oral e pelo cântico coral, composto do levirato celestial (os anjos, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos). A estes somaram-se, num cântico comunitário, todos os redimidos, uma incontável multidão . O culto do povo de Deus na terra deve ser figura do que acontece no céu. E lá a reverência é levada a sério, a cristocentricidade da adoração é uma realidade.
Por definição, culto é o serviço prestado a Deus pelo salvo e pela comunidade em todas as atividades vitais e existenciais. No primeiro caso, trata-se da atividade constante do real servidor de Deus, que o serve de dia e de noite com sua vida, testemunho e o adora através de sua profissão, suas atividades laborais e em todos os atos da vida. No segundo, tem-se em vista a liturgia comunitária, a adoração dos irmãos congregados; o ser e a voz da Igreja.
1. Ministério com relação a Deus: Adorar.
2. Ministério com relação aos crentes: edificar.
De acordo com as Escrituras, a igreja tem a obrigação de nutrir aqueles que já deram sinais do novo nascimento e edificá-los com vistas à maturidade na fé. O alvo da Igreja alvo não é apenas levar pessoas fé salvífica inicial, mas sim "apresentar todo homem perfeito (maduro) em Cristo". Deus concedeu dons à igreja...
"com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo"
É evidentemente contrário ao modelo do Novo Testamento pensar que a única função da Igreja para com as pessoas é levá-las à fé salvífica inicial. Uma vez inseridas na Igreja visível, é dever da Igreja envidar todos os meios para que todos os crentes sejam apresentados a Deus como “varão perfeito” (maduro) em Cristo.
3. Ministério com relação ao mundo: evangelização e misericórdia.
O Senhor Jesus ordenou aos seus discípulos que eles deveriam "fazer discípulos de todas as nações" . Essa obra evangelística de declarar o evangelho é o ministério principal da igreja com relação ao mundo. Todavia, acompanhando a obra de evangelização há também o ministério de misericórdia, que inclui cuidado dos pobres e dos necessitados. Embora a ênfase do Novo Testamento esteja na ajuda material para os que fazem parte da igreja11, há ainda uma afirmação de que é correto ajudar os descrentes ainda que eles não respondam com gratidão nem aceitem a mensagem do evangelho.
Tal afirmação depreende-se do ensino do Senhor Jesus:
Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.
A questão central na explicação dada por Jesus é o dever imitar Deus, o Pai, sendo bondosos até para os que são ingratos e também egoístas. Além do mais, o próprio Senhor Jesus, que se atentou não apenas aos que o aceitaram como Messias. Em vez disso, quando grandes multidões o procuravam, "ele os curava, impondo as mãos sobre cada um " . Esses paradigmas são incentivos suficientes para que a Igreja execute atos de bondade, a orar pela cura e por outras necessidades, tanto na vida de crentes como de descrentes. Tal ministério de misericórdia para com o mundo pode também incluir participação em atividades cívicas de influenciar a política do governo a ser mais consonante aos princípios sistemática no tratamento dos pobres ou de minorias étnicas ou religiosas. De igual modo, a igreja deve também, sempre que tiver oportunidade, denunciar a corrupção moral, a injustiça e todos os males sociais que atentam contra a Palavra de Deus.
Todos esses são meios com os quais a igreja pode complementar seu ministério evangelístico para com o mundo e de fato adornar o evangelho que ela professa. Mas tal ministério de misericórdia para com o mundo nunca deve tornar-se um substituto da evangelização genuína nem de outras áreas de ministério com relação a Deus e aos cristãos, conforme já mencionados.
4. Adoração, Edificação e Evangelização – As funções da Igreja em equilíbrio.
Uma vez relacionadas as funções da igreja, em surgindo a questão sobre qual deles é o mais importante. ou se um deles pode ser negligenciado em detrimento de outro; a isso responde-se que três propósitos da igreja foram ordenados pelo Senhor nas Escrituras; portanto, os três são importantes e nenhum deles pode ser negligenciado. De fato, uma igreja forte terá ministérios eficazes nas três áreas. Deve-se fugir de quaisquer tentativas de reduzir o propósito da igreja a apenas um desses três e de dizer que um ou outro deve ser a sua preocupação principal. As tentativas de tornar um desses propósitos o principal sempre resultará em negligência dos outros dois.
Uma igreja que enfatiza apenas adoração acabará tendo um ensino bíblico inadequado, e seus membros permanecerão na superficialidade quanto ao entendimento das Escrituras e imaturos na vida cristã. Se ela também começar a negligenciar a evangelização, essa igreja vai parar de crescer e de influenciar os outros; ela se tornará estagnada e finalmente começará a decair.
Uma igreja que coloca a edificação dos cristãos como um propósito que tem precedência sobre os outros dois tende a produzir cristãos que sabem muita doutrina bíblica, mas são espiritualmente áridos na vida porque pouco conhecem da alegria de adorar a Deus e de falar aos outros sobre Jesus Cristo.
Mas uma igreja que faz da evangelização sua prioridade, de modo que venha a negligenciar os outros dois propósitos, também acabará por gerar crentes imaturos que enfatizam o crescimento numérico, mas que possuem cada vez menos do amor genuíno de Deus expresso na adoração, maturidade doutrinária e santidade pessoal na vida.
É imperioso que essas três funções sejam enfatizadas continuamente e ambas sejam desenvolvidas simultaneamente na mesma proporção. Todavia, indivíduos são diferentes de igrejas ao colocar uma relativa prioridade sobre um ou outro desses propósitos. Pelo fato de a comunidade cristã local ser um corpo com diversos dons espirituais e múltiplos talentos; na individualidade, será natural que o membro da Igreja coloque mais ênfase no cumprimento do propósito da igreja que for mais relacionado com os dons e interesses que Deus lhe deu.
Certamente, nenhum crente está obrigado a dar exatamente um terço de seu tempo na igreja para adoração, um terço para edificação e um terço para a evangelização e para o ministério de misericórdia. Alguém com o dom de evangelização deve, naturalmente, gastar algum tempo em adoração no cuidado de outros cristãos, mas pode terminar gastando a maior parte do tempo no trabalho evangelístico. Alguém que é um talentoso líder de louvor pode terminar dedicando 90 por cento do seu tempo na igreja preparando-se para isso. Essa é apenas uma resposta adequada para diversidade de dons que Deus nos concedeu. Disso decorre o papel da liderança da Igreja, ao planejar as ações desta; distribuir as tarefas entre os membros de acordo com os dons e aptidões de cada um.